terça-feira, 1 de março de 2011

O rapaz de Bronze

Era uma vez um jardim maravilhoso, que tinha uma estufa, onde havia roseiras, jardins de buxo e pomares. Na estufa cresciam flores extraordinárias, que tinham uma placa com o seu nome escrito em latim.
No jardim de buxo havia um canteiro de gladíolos muito mundanos. Achavam que o lugar onde viviam era o mais chique do jardim, e achavam-se superiores a quase todas as flores. Para eles as rosas e os cravos estavam fora de moda, as papoilas e os girassóis eram plantas selvagens. A urze e o tojo do pinhal, diziam que não eram flores. Os gladíolos admiravam secretamente as camélias, porque não têm perfume. Por quem eles tinham grande consideração, era pelas flores da estufa, as orquídeas e as begónias. Mas as flores que os gladíolos amavam realmente eram as tulipas.
A dona deste jardim gostava muito de festas, e pedia ao jardineiro, para colher gladíolos porque estavam na moda. Um dia nasceu um gladíolo ainda mais mundano, que queria ser colhido para ir a uma festa dos homens. Mas a dona da casa decidiu que não queria mais gladíolos, e gladíolo que tinham acabado de nascer ficou triste e com raiva.
Nessa noite o gladíolo foi ver a festa dos homens, e decidiu organizar uma festa no jardim. Mas quem mandava no jardim era o rapaz de bronze, uma estátua que estava no centro do lago, ele era o senhor do jardim e o rei da noite. O rapaz de bronze disse-lhe que as flores não precisavam de festas como as dos homens, mas como o gladíolo a ficou triste acabou por deixar que ele organizasse uma festa.
O gladíolo, a orquídea, a begónia, a tulipa, o cravo e a rosa eram da comissão de organização e reuniram-se no dia antes da festa. Eles decidiram convidar todas as famílias de flores, e que a festa seria na clareira dos plátanos, que no centro tinha uma jarra de pedra que antigamente tivera terra e plantas. A orquestra seria as rãs, os cucos e pica-paus, os rouxinóis, melros, moscardos e sapos-tambores. Para decorar utilizaram pirilampos à roda do lago. E como havia flores na festa dos homens, na festa das flores deveria haver uma jarra com pessoas. Depois de pensarem decidiram meter na jarra uma menina chamada Florinda, que tinha 7 anos e era a filha do jardineiro. Para ele era a pessoa mais parecida com uma flor.
Na noite da festa, foram buscar a Florinda ao seu quarto, e o rapaz de bronze levou-a até à festa. Florinda ficou dentro da jarra como se fosse uma flor, e do centro da clareira foi vendo as flores a dançar, e ficou maravilhada e quase não acreditava que as flores andavam e falavam. E o rapaz de bronze disse-lhe:
- Florinda, vou-te ensinar um grande segredo, quando tu vires uma coisa acredita nela, mesmo que todos digam que não é verdade.
Ao final da noite o galo cantou, estava a nascer o dia. As flores rapidamente voltaram para os seus canteiros e o rapaz de bronze foi levar a menina para sua casa, que entretanto tinha adormecido a ouvir as histórias das estrelas.
No dia seguinte Florinda contou às suas colegas da escola, que não que lhe disseram que devia ter sido um sonho, e riram-se dela.
Passaram muitos anos e quando a Florinda tinha quinze anos, a mãe mandou-lhe fazer um recado, tinha que ir de noite levar ovos à cozinheira da casa da quinta. Caminhando ao acaso encontrou o jardim do rapaz de bronze e de repente o rapaz de bronze disse-lhe:
-Florinda, lembras-te de mim?
E ela disse-lhe que sim e que também se lembrava da festa das flores, da clareira e da noite de primavera, mas pensava que tinha sido um sonho, porque tinha sido extraordinário e não podiam ser verdade.
E o rapaz de bronze disse-lhe:
-As coisas extraordinárias e as coisas fantásticas também são verdadeiras. Porque há um país que é a noite e um país é o dia.
E Ela responde:
-Como o mundo é maravilhoso!

Francisco Ferreira

Sem comentários: