Era uma vez uma parede que tinha ouvidos.
Não havia nada a estranhar, pois há muita gente que gosta de contar segredos, próprios ou alheios, sem ligar ao aviso dos que dizem:
- Cuidado que as paredes têm ouvidos.
Esta parede tinha ouvidos e até olhos, calculem…Só lhe faltava a boca e o nariz.
Era espessa e toda fechada, sem portas e janelas, guardava tudo o que via e ouvia, no mais dentro das paredes e do cimento que era feita.
Até que, um dia, houve festa na aldeia, festa a valer, com fogo de artifício, música na praça, artista vindo de fora e bailarico até altas horas.
Um dos altifalantes da instalação sonora foi colocado na parede que tinha ouvidos. A meio da música, ouviu-se uma voz a dizer em segredo, mas de modo que todos ouvissem:
- A Tia Hermínia só toma banho na Páscoa.
O pessoal riu-se. Aquilo seria brincadeira de garotos.
Logo a seguir, outra revelação:
- O Armindo e a Arminda andam a namorar às escondidas. Embora a maioria da aldeia já soubesse, alguns estranharam o despropósito da notícia.
Mas donde viriam as falas? Da cabine de som não era. Do cantor que, no palco cantava, também não era.
Da parede de novo se ouviu:
- A Dona Camila já não paga aos criados há três meses, mas não quer que se saiba.
Aquilo já soava a escândalo e foi a própria Dona Camila que apontou para o altifalante, pendurado na parede e disse:
- A voz vem dali!
Arrancaram os fios e a voz calou-se. Acabaram-se as novidades e as inconfidências.
Quando voltou a haver festa na terra, não foi colocado nenhum altifalante na parede que sabia de mais.
Mafalda Machado Nº 3791
Não havia nada a estranhar, pois há muita gente que gosta de contar segredos, próprios ou alheios, sem ligar ao aviso dos que dizem:
- Cuidado que as paredes têm ouvidos.
Esta parede tinha ouvidos e até olhos, calculem…Só lhe faltava a boca e o nariz.
Era espessa e toda fechada, sem portas e janelas, guardava tudo o que via e ouvia, no mais dentro das paredes e do cimento que era feita.
Até que, um dia, houve festa na aldeia, festa a valer, com fogo de artifício, música na praça, artista vindo de fora e bailarico até altas horas.
Um dos altifalantes da instalação sonora foi colocado na parede que tinha ouvidos. A meio da música, ouviu-se uma voz a dizer em segredo, mas de modo que todos ouvissem:
- A Tia Hermínia só toma banho na Páscoa.
O pessoal riu-se. Aquilo seria brincadeira de garotos.
Logo a seguir, outra revelação:
- O Armindo e a Arminda andam a namorar às escondidas. Embora a maioria da aldeia já soubesse, alguns estranharam o despropósito da notícia.
Mas donde viriam as falas? Da cabine de som não era. Do cantor que, no palco cantava, também não era.
Da parede de novo se ouviu:
- A Dona Camila já não paga aos criados há três meses, mas não quer que se saiba.
Aquilo já soava a escândalo e foi a própria Dona Camila que apontou para o altifalante, pendurado na parede e disse:
- A voz vem dali!
Arrancaram os fios e a voz calou-se. Acabaram-se as novidades e as inconfidências.
Quando voltou a haver festa na terra, não foi colocado nenhum altifalante na parede que sabia de mais.
Mafalda Machado Nº 3791
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