terça-feira, 2 de novembro de 2010

O Dragão

Ching- Ling era uma menina que vivia na China e que acreditava em dragões. Na escola a professora dizia-lhe:
- Ching-Ling, onde é que tu tens a cabeça? Só me apresentas redacções de dragões, aguarelas de dragões. E de ciências naturais, que aprendes tu? Apenas o capítulo dos répteis.
Ching-Ling tinha muitos animais como lagartos, bichos-da-seda, lagartixas, osgas, peles de cobra e camaleões, guardados em caixas. Mas o que ela queria era encontrar um dragão.
Quando saia da escola, Ching-Ling embrenhava-se pelo atalho da floresta, até a uma clareira rodeada de enormes pedras aguçadas chamada “Clareira dos dentes de Dragão”, à espera de encontrar um dragão. Até que um dia viu um pequeno réptil, com quatro patas curtas e um par de asas rugosas.
E então diz para ela: - É um dragão, é mesmo um dragão!
Levou-o para casa e guardou-o dentro de uma lata de bolachas. A sua colecção de animais era digna de exposição.
Um dia apanhou uma terrível constipação, porque saiu para ir buscar comida para os seus animais, e apanhou muita chuva. Ching-Ling teve que ser internada no hospital, mas antes de ir soltou todos os seus animais menos o dragão.
Ching-Ling levou o dragão para o hospital e teve que o esconder debaixo dos lençóis. Quando chegava a noite, o dragão parecia louco porque tinha fome, saltava e esgravatava com as unhas no colchão e atirava-se em corridas desesperadas. Então ela atou-lhe um cordel e deixou-o ir à procura de comida. Já de madrugada enrolou o cordel, até o dragão chegar ao pé de si, abriu-lhe a boca e encontrou-a cheia de comprimidos e com a barriga dilatada.
Quando a Ching-Ling saiu do hospital levou o pequeno dragão na algibeira, mas com o efeito dos comprimidos, o dragão foi ficando cada vez maior, com a pele mais escamosa e dura, e quando abria a boca deitava um bafo quente. Aprendeu a ler e obedecia a ordens, aprendeu a cozinhar e lava a loiça. O Dragão levava a Ching-Ling à escola, e os seus amigos ficavam maravilhados.
Como já não era possível esconde-lo, e como a notícia se espalhou, a China considerou o dragão, Património Nacional. Jornalistas, fotógrafos, televisões, cientistas e turistas todos foram visitá-lo à aldeia de Ra-ta-chum. O dragão foi metido numa grande jaula, e Ching-Ling ficou triste porque estava longe do seu amigo.
Um dia foi visitá-lo, entrou para dentro da jaula e dei-lhe um abraço e exclamou:
-Tu tens que ser livre. Foge! Foge!
Então o dragão deitou um relâmpago de fogo que derreteu a jaula, e voou alto, alto, alto, longe, longe, longe e nunca mais ninguém o viu.

Francisco Ferreira





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